Dia Mundial da Saúde Mental

 

Publicado em: 10/10/2022 08:06 | Fonte/Agência: Patricia Santos / Associação Regional de Saúde do Sudoeste

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Dia Mundial da Saúde Mental

Dr. Márcio (Foto: arquivo pessoal).

No dia 10 de Outubro comemora-se o Dia Mundial da Saúde Mental.

No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 12 milhões de pessoas sofrem de depressão, sendo a maior taxa da América Latina.

Convidamos o Dr. Márcio Luis Ferrari Filho, profissional que atende na ARSS, para esclarecer algumas dúvidas sobre o tema:

Quando devo procurar um médico para tratar da saúde mental?

Não há uma regra específica de quando procurar ajuda quando se fala em saúde mental. Mas existem sinais que devem ser levados em consideração e nos chamar a atenção sobre a necessidade de talvez buscar ajuda especializada. Na ocorrência de problemas emocionais que ocorrem de forma mais recorrente e mais intensa a ponto de causar prejuízo no funcionamento diário da pessoa que sofre seja nos relacionamentos interpessoais, na vida estudantil e/ou no trabalho.

Alguns sinais e sintomas se iniciam de forma bem sutil alterando rotina do sono, choro desmotivado, apetite, ânimo, maior consumo de substâncias de drogas lícitas e ilícitas podendo até mudar a perspectiva do indivíduo em relação à sua existência e futuro. Os sinais e mudança do comportamento algumas vezes são observados por familiares e amigos próximos. Em outros casos mais graves podem ocorrer o afastamento social, alucinações, pensamentos de morte até a tentativa de autoextermínio.

Doença mental tem a ver com hereditariedade?

Sim. Assim como como a hipertensão, diabetes, obesidade e outras doenças crônicas os transtornos psiquiátricos também possuem essas características. Nas ultimas décadas com os avanços da neurociência e novas descobertas da neurobiologia dos transtornos mentais tem se evidenciado o peso genético dessas afecções. 

Com os avanços da neurobiologia há uma perspectiva animadora no surgimento de novas opções de tratamento e melhor compreensão acerca do desenvolvimento das doenças mentais.

Como os medicamentos ajudam no tratamento de perturbações mentais?

As medicações possuem uma função estratégica e necessária para as pessoas que passam por essas perturbações. Em algumas situações o uso da medicação não é necessário, porém para essa conduta o paciente precisa de avaliação médica para avaliar a real necessidade do uso de um psicotrópico. Sabemos que há um movimento na sociedade que estigmatiza o tratamento psiquiátrico podendo atrasar um diagnóstico e, principalmente, postergar a ajuda da pessoa que sofre podendo agravar o quadro psíquico. O tratamento deve ser singular, ou seja, cada indivíduo merece uma atenção e uma proposta terapêutica individualizada e o tratamento sempre que possível deve ser multiprofissional envolvendo médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, assistência social dentre vários outros profissionais que contribuam na formação de uma rede de proteção e assistência à pessoa que sofre. 

Como diferenciar tristeza de depressão?

A tristeza é um tipo de emoção inerente ao ser humano. É um estado afetivo em que todos vivenciamos em alguns momentos da nossa vida. A depressão já representa um agravamento deste estado emocional que se associa a outros sintomas, e que quando causa um déficit no funcionamento diário da pessoa há a necessidade de buscar ajuda especializada podendo ser um psicólogo, médico de família ou psiquiatra.

Como cuidar da saúde mental?

A prevenção das doenças do corpo e da mente é a maneira mais segura de conter o avanço dessas enfermidades. Sabemos que o que somos, a maneira como funcionamos, como pensamos e como agimos é determinado por condicionantes trazidos da nossa infância e criação sendo repassados por nossos familiares de geração em geração. A evolução dos meios de comunicação impactou a maneira como nos enxergamos e nos posicionamos diante da sociedade. Uma cultura que nos exige muitas demandas, determina padrões de corpo, de vida, de alimentação, e de comportamento acaba impactando a nossa forma de viver. Somos pressionados a entrar em um círculo em que é exibido pela sociedade como o correto, o válido, o belo. Cada um de nós temos as nossas peculiaridades e isso deve ser respeitado e aceitado, principalmente por nós mesmos. A partir de então podemos entender aonde é a nossa posição e necessidade diante de todas essas possibilidades que estão ao nosso alcance. 

Devemos ter um cuidado integral em relação a nossa saúde, uma vez que nosso corpo trabalha de forma multifuncional e integrada. Alimentação saudável, prática de atividade física regular, alimentar nossa espiritualidade, atividades de lazer são práticas que quando associadas podem ajudar a prevenir as doenças mentais e quaisquer outras afecções do corpo. Quando digo espiritualidade, não me refiro a religiosidade, pois são termos diferentes. Optar por uma prática religiosa, estilo de vida e ou ensinamentos filosóficos são práticas que nos auxiliam a dar um significado e entendimento para nossa existência.

Observamos nos últimos anos pré e pós pandemia principalmente um aumento significativo de novos casos de doenças mentais e nos casos de suicídio. Nossas autoridades e responsáveis pela construção de políticas públicas de prevenção e promoção em saúde devem ficar atentos à mudança que estamos enfrentando em relação ao adoecer da população. Observa-se a alteração das principais doenças das ultimas décadas. Doenças infectocontagiosas, oncológicas e as doenças mentais estão tomando o lugar das doenças crônicas como diabetes, hipertensão e suas complicações. Nosso estilo de vida é muito responsável por essa alteração da morbidade.  Há uma necessidade de reestruturação dos serviços de saúde, pois o impacto da pandemia causou um represamento de casos orgânicos aumentando a gravidade ocasionando novas doenças aumentando o fluxo e a demanda nos centros de saúde. É preciso melhorar a capacidade de absorver esta demanda buscando novos profissionais que sejam capazes de oferecer um serviço de qualidade e integralizado conversando com outros serviços de saúde fortalecendo a rede para que assim possamos amenizar e prevenir novos casos.

Dr. Márcio Luis Ferrari Filho é Médico Generalista com especialização em Psiquiatria.