Estamos no Agosto Dourado, mês de incentivo ao Aleitamento Materno.
Apesar de todas as evidências científicas que apontam os benefícios da amamentação para mães, bebês e toda a sociedade, ainda temos índices muito baixos de bebês que são amamentados ao seio materno. Isso acontece por inúmeros fatores, que podem estar ligados à mãe, ao bebê, à dupla, à interferência de outras pessoas e falta de apoio da sociedade em geral, mas sobretudo a desinformação.
É normal haverem dificuldades para o estabelecimento ou manutenção da amamentação, mas elas diminuem quando a mulher está bem informada e procura ajuda de um profissional de saúde capacitado para atendê-la, o quanto antes.
Conversamos com a Fonoaudióloga que atende na ARSS, Aline Schmatz, que também é Consultora em Aleitamento Materno, a qual gentilmente esclareceu algumas dúvidas comuns sobre o tema:
A alimentação da mãe interfere no leite?
Tudo o que a mãe consome reflete em seu leite já que todos os nutrientes são desviados para ele, pois o corpo da mulher entende que precisa priorizar a nutrição do bebê. Além disso, não há uma barreira que “filtre” o leite, por isso a mulher não deve ingerir bebidas alcoólicas e substâncias ilícitas enquanto estiver amamentando. Porém, sabe- se que em relação a qualidade de sua alimentação, mesmo mulheres que estejam em desnutrição produzem leite com qualidade superior há qualquer outro tipo de leite, pois ele sempre será completo e ideal para as necessidade do bebê. Quanto ao medo do que ela consumir causar cólicas no bebê, ainda não há evidências suficientes que afirmem que isto aconteça, o que se sabe é que uma dieta equilibrada, sem excessos, sempre será benéfica para mãe e bebê. A não ser em casos de alergias alimentares, como na alergia a proteína do leite de vaca, alergia a ovo, soja… recomenda-se que a mãe exclua esse tipo de alimento de sua dieta, para que não cause reações alérgicas no filho, via leite materno. A orientação de nutricionista nesses casos, é fundamental.
Existe leite fraco?
Outra dúvida comum é se o leite da mãe está sendo “fraco” e não sustentando o bebê. Como já dissemos, o leite materno sempre será o ideal e mais completo pro bebê. O que pode haver é uma baixa produção de leite, que pode ser causada por problemas na dinâmica da amamentação, como por exemplo uma pega ao seio materno incorreta, ou alterações de sucção que façam a mamada ser ineficiente. O uso de bicos artificiais, como chupetas, intermediários de silicone, ou uso de mamadeira, também pode impactar na produção de leite materno, pois o bebe acaba indo menos vezes ao peito, e o leite materno é produzido na mama conforme a demanda do bebê, ou seja: quanto mais ele sugar (e da forma adequada), mais leite produzirá. Há alguns casos, como por exemplo de problemas hormonais da mãe, ou cirurgia prévia de redução de mamas, que também podem interferir na produção de leite. Uma avaliação de profissional de saúde que entenda de amamentação é fundamental para diagnosticar e fazer o manejo nesses casos.
É normal a produção de leite diminuir mesmo quando o bebê está mamando normalmente?
Essa dúvida surge pois nos primeiros meses é comum a mulher produzir mais leite do que o bebê consegue mamar, isso acontece pois há ação dos hormônios da lactação associados a intervalos de mamadas mais frequentes. Porém, conforme o bebê cresce e vai se estabelecendo uma rotina de amamentação ainda guiada por ele, o corpo da mulher passa a entender o quanto de leite precisa produzir por mamada. São as sucções do bebê ao seio materno que fazem o estímulo para produção e retirada do leite da mama. Assim, os peitos param de acumular e vazar leite nos períodos em que o bebê não está na mama. Mas isso não significa que o leite tenha secado, apenas que sua produção se regulou conforme a demanda daquele bebê. Caso a mulher esteja em dúvida sobre sua produção de leite, deve buscar orientação profissional.
É normal um seio produzir mais leite do que o outro mesmo quando a mãe oferece as duas mamas igualmente?
O bebê pode apresentar preferência por uma mama em relação a outra, e acabar sugando mais uma delas. Isso pode acontecer porque na mama esquerda, por exemplo, ele ouve o som do coração da mãe, som que ele ouvia dentro do útero e que é familiar à ele, ou por alguma assimetria no corpo do bebê, que faça com que ele se sinta mais confortável em determinada posição. Isso faz com que a mama mais estimulada apresente maior produção de leite e, consequentemente, um aspecto maior. Além disso, é normal termos mamas de tamanhos levemente diferentes, pois nosso corpo não é completamente simétrico, e isso faz com que pareça que uma mama seja maior que a outra, dando a impressão que uma produz mais leite que a outra.
O bebê pode ser amamentado por outra pessoa?
A amamentação cruzada, como é chamado quando uma mulher amamenta o bebê de outra, não é indicado pois há vários tipos de doenças que podem ser transmitidas via amamentação. Somente se o leite da mulher passou por processo em banco de leite humano, onde é processado e analisado, ele poderá ser ofertado para outra criança que não a sua. Lembrando que a doação de leite materno, via bancos de leite, é fundamental para garantir a sobrevivência e nutrição de bebês internados, principalmente em UTI’s neonatais.
Aline Poliana Schmatz é Fonoaudióloga, Mestre em Fonoaudiologia, Especialista em Saúde Pública com ênfase em Saúde da Família, atua com aleitamento materno há 16 anos.